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PAULO NOGUEIRA-NETO

(1922-2019)

No dia 25 de fevereiro de 2019, o Brasil perdeu um de seus maiores nomes. Paulo Nogueira-Neto, falecido aos 96 anos, foi o patrono e um dos mais emblemáticos defensores da causa ambiental. 

Pode ser considerado o primeiro ministro do Meio Ambiente do Brasil por sua atuação, entre 1974 e 1986, à frente da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), órgão do governo federal ligado ao Ministério do Interior e que, à época, era responsável pelo setor ambiental no Brasil.

Paulo Nogueira-Neto foi membro da Comissão Brundtland de Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, que criou o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Recebeu inúmeros prêmios e homenagens ao longo de sua carreira.

Como um dos fundadores e presidente-emérito do WWF-Brasil, Paulo Nogueira-Neto prestou inestimável contribuição à instituição como membro do Conselho Diretor, sempre de forma atuante, dedicada e inspiradora.

Esse mundo novo e sustentado será o resultado, a meu ver, do efetivo cumprimento do mandamento do amor ao próximo, por todos os povos, culturas e religiões. Levará algum tempo, mas chegaremos lá.

OBRA FUNDAMENTAL

O livro “Uma Trajetória Ambientalista: Diário de Paulo Nogueira-Neto”, lançado em 2010, reúne a longa e profunda experiência de Paulo Nogueira-Neto, registrada metodicamente ao longo de mais de 30 anos, obra que contribui para a história do ambientalismo no Brasil.  "Tal é a interpenetração entre a vida de Paulo Nogueira-Neto e sua luta pela conservação da natureza, que este livro de memórias pessoais acabou sendo um manual da história do movimento conservacionista no Brasil, contada de dentro, com exemplar franqueza e sinceridade", escreve Paulo Vanzolini na abertura da publicação. É incrível a riqueza deste diário. Paulo Neto ocupou diversas das mais altas posições administrativas no campo da conservação. Sua opinião foi sempre procurada e acatada.  E, repito, a sinceridade e franqueza dos comentários são de si mesmas fascinantes. É livro para ler, reler, conservar com carinho."

BAIXE O LIVRO

UMA VIDA DEDICADA AO MEIO AMBIENTE

Paulo Nogueira-Neto gostava de ser chamado de PNN

♦ Nasci em 18 de abril de 1922, na Avenida Angélica, esquina com a Rua Baronesa de  Itu [em São Paulo], na casa de meus avós paternos, Ester e Paulo Almeida Nogueira. 

♦ Entre 1930 e 1932, moramos cerca de dois anos no Rio de Janeiro, onde meu pai trabalhava no Governo Federal. Contudo, na Revolução de 1932, na qual ele também participou com decisão e entusiasmo, fomos derrotados. 

♦ Foi durante o meu agitado curso na Faculdade de Direito que comecei a me interessar de perto pela defesa do Meio Ambiente e pelas outras grandes questões nacionais. Com meus colegas, lutei nos anos 1940 contra a ditadura fascista e unitária de Getulio Vargas, que quase acabou com a Federação Brasileira.

♦Foi também quando estava na Faculdade de Direito [em 1944] que comecei a estudar as abelhas indígenas nativas, sem ferrão. Recebi de presente uma colônia de Jataís do meu sogro Manoel Joaquim Ribeiro do Valle, um bom homem, casado com minha também saudosa sogra Lavínia.

♦ Lá pelos anos de 1955-1956, o Governador Jânio Quadros resolveu transformar as terras devolutas do Pontal de Paranapanema, no Estado de São Paulo, numa Reserva Florestal, como se dizia então.

♦ Preocupados com isso, em 1956 constituímos e registramos devidamente a Associação de Defesa da Flora e da Fauna. Depois ela se transformou na Associação de Defesa do Meio Ambiente - São Paulo, a Adema SP. Apesar da nossa luta, a Assembleia Legislativa não aprovou a Reserva Florestal. Aprendemos também com a derrota.

♦ Depois de exercer meu cargo na Sema, fui durante cerca de dois anos (1986 a 1988) secretário do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia (Sematec) do Distrito Federal, no Governo de José Aparecido de Oliveira. 

♦ Toda a organização da rede de ação ambiental existente na Federação Brasileira, começou como resultado da Conferência de Estocolmo, em 1972, à qual não compareci.

♦ No seu retorno ao Brasil, vindo de Estocolmo, Henrique [Brandão Cavalcanti] conseguiu obter do Governo um Decreto criando a Secretaria Especial do Meio Ambiente. Em fins de 1973 ele me convidou a ir a Brasília e me deu para ler o Decreto recém publicado, criando a nova Secretaria. Pediu a minha opinião. Eu a dei com muita franqueza. O Decreto estava insuficiente, mas servia bem para um inicio. Então eu não sabia isso, mas o Decreto foi o Projeto que Henrique apresentou ao ministro Leitão de Abreu, da Casa Civil, com uma redação que pudesse ser aprovada, naquela época ainda difícil para o Meio Ambiente. Com grande surpresa para mim, quando terminei de falar o Henrique me perguntou: - “Mas você aceitaria ser o secretário do Meio Ambiente?” Entrevi imediatamente a fascinante possibilidade de fazer algo de muito novo e muito positivo. Era um imenso e maravilhoso desafio, desses que a gente recebe só uma vez na vida. Respondi que concordaria, se Lucia minha esposa também estivesse de acordo, pois isso iria modificar a sua pacata vida paulistana, muito ligada à sua família. Consultada, Lucia imediatamente concordou.

♦ O ano de 1974 foi um marco na história do nosso ambientalismo, pois indica o início das atividades da Secretaria Especial do Meio Ambiente (Federal), que levou, mais tarde, à criação do Ibama e por fim, à criação do Ministério do Meio Ambiente.

♦ Nos debates da Comissão Brundtland [em 1987], cedo verificamos que um dos grandes perigos do excesso de população, que está ainda crescendo, era um dos maiores problemas do planeta Terra. Assim, frear o crescimento excessivo da população humana pareceu prioritário. Como fazer isso? Somente seria possível ou viável, através dos benefícios trazidos pelo desenvolvimento. Mas que desenvolvimento? De que tipo? Alguém sugeriu que seria um “Desenvolvimento Sustentável ou Sustentado”.

♦ Uma das minhas atividades, desde 1993, diz respeito à proteção à vida de seringueiros e castanheiros da região de Xapuri-Brasileia Epitaciolândia e outras áreas próximas no Estado do Acre. Consegui a criação, por Decreto Federal, da Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Seringal Nova Esperança, com o objetivo de proteger as plantas necessárias às atividades de castanheiros e seringueiros.

♦ Para ajudar lá [as áreas no Acre] pessoas necessitadas, em 2005 fundei uma ONG, a “Ação Social e Ambiental São Quirino” (Asasqui). Essa entidade auxilia dezenas de famílias. 

♦ Um plano do Governo do Estado sobre o uso do solo, prevendo nessa região do Pará grandes Unidades de Conservação, foi aprovado também pelo Conama, em 2008. Participei dessa reunião. 

Um mundo melhor depende também da Democracia e do mútuo respeito, que está aos poucos sendo construído, às vezes sofrendo alguns solavancos ao longo do caminho, mas seguindo para frente.

UMA IDEOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Muitas pessoas ainda não se deram conta de um fato importante que está se desenvolvendo entre nós. Trata-se da formação e da implementação de uma nova e promissora ideologia política, social, econômica, educacional e fortemente ambiental. É a ideologia do desenvolvimento sustentável, essencial para a erradicação da miséria.

Uma de suas bases mais vigorosas é o mandamento cristão, do amor ao próximo, exposto há mais de 2.000 anos.

Poderíamos dizer que, politicamente, há 200 anos, a ideologia desenvolvimentista dava os seus primeiros passos no Brasil e em Portugal, com várias das preocupações cientificas e ideológicas do Patriarca José Bonifácio da Andrada e Silva. Já nos nossos dias, a Comissão Brundtland das Nações Unidas, da qual fiz parte, apresentou, em termos gerais e atuais, essa ideologia sustentável com o livro que editou em 1988, com o nome de Nosso futuro comum.

A minha vida girou, em grande parte, em torno da implantação desses ideais. Ainda recentemente, esses princípios foram, com ênfase também na Educação, apresentados e expostos nos debates que antecederam as eleições de outubro de 2010. Ninguém contestou essas ideias, o que a meu ver já representa uma vitória.

Relatei neste livro [Uma Trajetória Ambientalista], como, em grande parte, essa ideologia de amor, paz e desenvolvimento sustentável foi se firmando e se desenvolvendo. E certamente ainda continuará a se expandir, para nossa alegria e para o bem da Humanidade, inclusive das gerações futuras. Um mundo melhor depende também da Democracia e do mútuo respeito, que está aos poucos sendo construído, às vezes sofrendo alguns solavancos ao longo do caminho, mas seguindo para frente.

PAULO NOGUEIRA-NETO

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