PANTANAL
© WWF / Juan PRATGINESTOS

 

O QUE É

 

O Pantanal é uma planície inundável peculiar e sensível, a maior área úmida continental do planeta, e está inserido na parte central da bacia hidrográfica do Alto Paraguai. Ele ocupa parte dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e estende-se pela Bolívia e Paraguai. É uma região peculiar não só pelas suas belezas naturais como também pelo papel que desempenha na conservação da biodiversidade. 

Também chamado de “reino das águas”, esse imenso reservatório de água doce é muito importante para o suprimento de água, a estabilização do clima e a preservação do solo

Para a conservação do Pantanal, é essencial levar em conta a bacia hidrográfica como um todo e não só a planície alagável. Afinal, tudo está interligado. O equilíbrio ambiental e os processos ecológicos do bioma são determinados por eventos, naturais ou não, que ocorrem nas partes altas da bacia hidrográfica. A água que nasce nas partes altas corre para baixo, para a planície inundável, carregando o que estiver pelo caminho. É o pulso das águas que dita o ritmo da vida, dinâmico, complexo e delicado. 

E porque o Pantanal alaga? De forma geral, as chuvas ocorrem com maior frequência nas cabeceiras dos rios que deságuam na planície. Com o início do trimestre chuvoso nas regiões altas (a partir de novembro), sobe o nível de água dos rios, provocando as enchentes. O mesmo ocorre paralelamente com o rio Paraguai. Não tendo como escoar toda a água acumulada, ela se espalha e cobre, continuamente, vastas extensões em busca de uma saída natural, que só é encontrada centenas de quilômetros adiante, no encontro com o rio Paraná. Ele deságua no rio da Prata e esse, por sua vez, no Oceano Atlântico, fora do território brasileiro. As cheias chegam a cobrir até 2/3 da área pantaneira, transformando a região em um impressionante lençol d'água, afastando parte da população rural que migra temporariamente para as cidades ou vilas. 

O cervo-pantaneiro precisa do Pantanal íntegro para sobreviver
© WWF-Brasil

POR QUE É IMPORTANTE 


O Pantanal ocupa uma área de 158.592 quilômetros quadrados, mas a Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai, responsável pela sua formação, é muito maior. Ao todo, a bacia transfronteiriça abrange uma área de 624.320 quilômetros quadrados, sendo aproximadamente 62% no Brasil, 20% na Bolívia e 18% no Paraguai, com recursos hidrológicos importantes para o abastecimento das cidades desses países, nas quais vivem cerca de três milhões de pessoas. 

A sobrevivência do Pantanal rico e biodiverso depende do ciclo das águas, que se alterna entre períodos de seca e de enchentes. Quando as áreas de planície se transformam em grandes alagados, o solo é nutrido com água e material orgânico trazidos junto com a inundação. Na época das cheias, que acontece entre dezembro e janeiro, 80% do bioma é alagado e 180 milhões de litros de água são despejados por dia nos rios pantaneiros, o que equivale a 72 piscinas olímpicas. Quando esvaziam, também mostram sua exuberância e formam o ambiente ideal para uma grande variedade de plantas e animais que encontram ali as condições ideais para viver, reproduzir e se perpetuar. Por isso, qualquer mudança ou impacto nas partes altas da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai, onde estão as nascentes, tem reflexos no Pantanal, que fica na parte baixa. 

A importância ambiental da maior área úmida continental teve o seu reconhecimento a partir de 1998, quando o bioma foi decretado Patrimônio Nacional pela Constituição brasileira. Em 2000, o Pantanal recebeu o título de Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas (ONU). 

Áreas úmidas existem em todos os tipos de ecossistemas e são importantes para a manutenção da biodiversidade das regiões. Situadas em uma interface entre a água e o solo, são ecossistemas complexos, pressionados não somente pela ação direta do homem, mas também pelos impactos sobre ecossistemas terrestres, marinhos e de água doce adjacentes. 

Essas áreas abrigam uma enorme variedade de espécies endêmicas, mas, também, periodicamente, espécies terrestres e de águas profundas e, portanto, contribuem substancialmente para a biodiversidade ambiental. Além disso, têm papel importante no ciclo hidrológico, ampliando a capacidade de retenção de água da região onde se localiza, promovendo o múltiplo uso das águas pelos seres humanos. 

 Um estudo denominado Monitoramento das Alterações da Cobertura Vegetal e Uso do Solo na Bacia Alto Paraguai, realizado pelo WWF-Brasil em parceria com ONGs que atuam no Pantanal brasileiro, mostra que a planície inundável, onde está o bioma, ainda está bem conservada, com 86,6% da sua cobertura vegetal natural. A situação é bem diferente na parte alta da bacia hidrográfica, onde apenas 41,8% da vegetação nativa permanece com sua formação original. 

© WWF-Brasil / Aldem Bourscheit
Você sabia?

 

  • Os 210 mil quilômetros quadrados do Pantanal equivalem à soma das áreas de quatro países europeus – Bélgica, Suíça, Portugal e Holanda. 
     
  • Sua paisagem é conhecida por ser um mosaico de ecossistemas, já que abrange um um pouco da Amazônia, uma parte do Cerrado, outra da Mata Atlântica e uma porção do Chaco boliviano. 
     
  • Devido a sua importância ambiental, o bioma foi decretado Patrimônio Nacional, pela Constituição de 1988, e Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera, pelas Nações Unidas, em 2000. 
     
  • No Brasil, existe uma data nacional dedicada ao bioma: 12 de novembro, Dia do Pantanal.  

PRINCIPAIS AMEAÇAS 

 

Quando se fala em Pantanal, a imagem comum é a de um santuário preservado e intocado, repleto de água, com belas paisagens formadas por rios, lagoas e uma grande variedade de animais e plantas. Mas o Pantanal belo e diverso que conhecemos é também uma região sensível e vulnerável a ameaças tanto de dentro quanto de fora ‒ e pode desaparecer se não for preservado. 

 O bioma depende da manutenção do ciclo hidrológico, que permite o subir e baixar das águas e a inter-relação entre as espécies. Qualquer mudança nesse ciclo pode comprometer os ecossistemas e modificar toda essa paisagem. 

A pecuária não sustentável, a monocultura da cana-de-açúcar e da soja e a contaminação de solos e dos recursos hídricos com insumos agrícolas são pontos de alerta. Todo impacto negativo nas nascentes e cabeceiras dos rios pode alterar de forma drástica a planície inundável. 

Da mesma forma, grandes projetos de infraestrutura previstos para serem realizados na região podem impactar negativamente se forem executados sem considerar as características naturais nativas. 

A ocupação do Pantanal por europeus e seus descendentes foi iniciada no século XVIII, com a introdução da pecuária na região. A atividade econômica tornou-se a mais significativa e se estende do planalto das bordas da bacia até a planície alagável. 

Com um rebanho estimado em 16 milhões de cabeças de gado, ela estabelece o padrão de ocupação do espaço geográfico e determina a cultura pantaneira, além de muitos dos impactos ambientais na região. 

Desmatamento, queimadas e assoreamento de rios são alguns dos problemas relacionados às atividades de infraestrutura quando não são praticadas com responsabilidade. 

 Nas últimas décadas, aumentou a pressão pela instalação de projetos de desenvolvimento com sérios impactos ao meio ambiente, entre eles, a instalação de hidrelétricas nas cabeceiras dos rios e a construção da hidrovia Paraguai-Pantanal no rio Paraguai. Além disso, o crescente número de usinas hidrelétricas modifica o ciclo hidrológico e a produção de carvão ameaça a cobertura vegetal da região. 

Os recentes esforços de redução das emissões de CO2 pela expansão da produção de álcool e bicombustível aumentam a preocupação a respeito de seus impactos sobre o Pantanal, tendo em vista a crescente demanda por terra agricultável e água para irrigação de lavouras e processamento desses combustíveis, o que provocará o aumento da liberação de agrotóxicos e rejeitos, além da sedimentação provocada pela erosão. 


 

ESPÉCIES DO BIOMA 

 

O Pantanal possui uma rica biodiversidade. É o berço de 4.700 espécies entre animais e vegetais. Entre elas, estão 3.500 plantas (árvores e vegetações aquáticas e terrestres), 325 peixes, 53 anfíbios, 98 répteis, 656 aves e 159 mamíferos.  

De acordo com informações da Embrapa Pantanal, das espécies de peixes registradas no Pantanal, mais de 85% pertencem à ordem Ostariophysi, da qual fazem parte o pacu, o dourado, a tuvira, o pintado, a cachara e o cascudo. 

Entre os animais, destaca-se o tuiuiú, ave-símbolo do Pantanal. Maior ciconiídeo   do bioma, essa ave chega a ter mais de 2 metros de envergadura com as asas abertas.  

Durante toda a vida, o tuiuiú tem apenas um ninho, bem grande (de até três metros), que acomoda seus quatro ovos, os quais são cuidados tanto pelo macho quanto pela fêmea até os filhotes completarem três meses. Por isso, depende de habitats conservados, longe de desmatamento e queimadas. Essa ave pode ser encontrada nos mais diversos habitats, com maior abundância nas áreas de savana (campo/cerrado), que consiste em gramíneas altas, com arbustos e florestas. Migratória, ela predomina no Pantanal entre abril e dezembro.  

A arara-azul também é uma ave que se destaca no bioma, embora esteja ameaçada de extinção devido à caça, ao comércio clandestino e à degradação de seu habitat natural por conta do desmatamento. É a maior entre os psitacídeos (família dos papagaios, periquitos, araras, maritacas), chegando a medir um metro da ponta do bico à ponta da cauda. No Pantanal, 90% dos ninhos de araras-azuis são feitos no manduvi, árvore com cerne macio. Também são utilizados a Ximbuva (Enterolobium contortisiliquum) e o Angico Branco (Albizia nipioides). 

Aos sete anos de vida, a arara-azul começa sua própria família. Em média, a fêmea tem dois filhotes, mas, em geral, só um sobrevive. Ela passa a maior parte do tempo no ninho, cuidando da incubação dos ovos, enquanto o macho se responsabiliza por alimentá-la. Na época de incubação, 40% dos ovos são predados por gralhas e tucanos ou por algumas espécies de mamíferos, como o gambá. Passados aproximadamente 28 dias, o ovo eclode. Os filhotes nascem frágeis e são alimentados pelos pais até os seis meses. Correm risco de vida até completarem 45 dias, pois não conseguem se defender de baratas, formigas ou outras aves que invadem o ninho. Somente com três meses de vida, quando o corpo está todo coberto por penas, se aventuram em seus primeiros voos. Na maioria dos casos, só um filhote (o mais forte e mais saudável) sobrevive. 

Outra espécie encontrada no bioma é a onça-pintada, maior felino das Américas e muito importante para as ações de conservação. Por estar no topo da cadeia alimentar e necessitar de grandes áreas preservadas para sobreviver, a onça-pintada, ao mesmo tempo temida e admirada, é um indicador de qualidade ambiental. A ocorrência desses felinos em uma região indica que ele ainda oferece boas condições que permitam a sua sobrevivência. A destruição de habitats aliada à caça predatória faz com que essas populações venham sendo severamente reduzidas. É classificada pela IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza) e pelo IBAMA como espécie vulnerável e está no apêndice I do CITES. 

Originalmente, ela podia ser encontrada desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Atualmente, está oficialmente extinta nos Estados Unidos, é muito rara no México, mas ainda pode ser encontrada na América Latina, incluindo o Brasil. De maneira geral, porém, suas populações vêm diminuindo onde entram em confronto com atividades humanas. No Brasil, ela já praticamente desapareceu da maior parte das regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Vive em diversos tipos de habitat, desde florestas, como a Amazônica e a Mata Atlântica, até ambientes abertos, como o Pantanal e o Cerrado. 

Entre as espécies animais, destacam-se a piúva pantaneira e a pau-formiga. A piúva pantaneira (Tabebuia albo rosa) floresce de junho a setembro e é a preferida dos tuiuiús, que encontram nessa árvore um local perfeito para seus ninhos. 

Já a pau-formiga (Triplaris americana L.) é uma árvore também conhecida como pau-de-novato, novateiro-de-mato-grosso, formigueiro e pode atingir rapidamente os três metros de altura em dois anos. Ele abriga muitas formigas no tronco oco, por isso o nome popular de formigueiro, e possui dois tipos de plantas, uma feminina, que floresce uma cor rosa intensa, e a masculina, de cor rosa mais clara. A época de florescimento é entre agosto e outubro. 

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