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A Mata Atlântica é o bioma mais biodiverso do Brasil com mais de 20 mil espécies de flora e cerca de 2.040 espécies diferentes de fauna, mas também é trinacional, se estendendo também por parte da Argentina e Paraguai. Corresponde a 15% do território brasileiro e está distribuída em 17 estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Grande parte da sua distribuição geográfica é pela costa do oceano Atlântico, daí a origem de seu nome.
Apesar da grande importância econômica e ecológica, é o bioma mais degradado do Brasil. Hoje, restam apenas 24% da floresta que existia originalmente, sendo que apenas 12,4% são florestas maduras e bem preservadas (segundo dados do Atlas da Mata Atlântica, elaborado pela SOS Mata Atlântica em parceria com o Inpe).
Além disso, a maior parte da área remanescente é fragmentada e desconectada. Tanto que atualmente, existem apenas dois grandes contínuos de vegetação nativa que estão localizados na Serra do Mar (entre o Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro) e no Alto Paraná, na região de Foz do Iguaçu na fronteira com a Argentina e Paraguai. Essa fragmentação ameaça espécies importantes da biodiversidade brasileira como a onça-pintada.
Espécies imponentes de árvores são encontradas no que ainda resta da Mata Atlântica, como o jequitibá-rosa, que pode chegar a 40 metros de altura e 4 metros de diâmetro. Também se destacam outras espécies, como o pinheiro-do-paraná, o cedro, as figueiras, os ipês, a braúna e o pau-brasil, entre muitas outras. Na diversidade da floresta são encontradas matas de altitude, como a Serra do Mar (1.100 metros) e Itatiaia (1.600 metros), onde a neblina é constante.
Paralelamente à riqueza vegetal, a fauna é o que mais impressiona na região. A maior parte das espécies de animais brasileiros ameaçados de extinção são originários da Mata Atlântica, como os micos-leões, a lontra, a onça-pintada, o tatu-canastra e a arara-azul-pequena. Além dessa lista, também vivem na região gambás, tamanduás, preguiças, antas, veados, cotias, quatis, entre outros.
POR QUE É IMPORTANTE ?
Mesmo reduzida e fragmentada, a mata exerce influência direta na vida de cerca de 70% dos brasileiros: nas cidades, áreas rurais, comunidades caiçaras e indígenas, protege o clima, regula o fluxo dos mananciais, a fertilidade do solo, a proteção de encostas, entre tantas outras funções.
As grandes capitais brasileiras, como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR) e Belo Horizonte (MG), são completamente abastecidas pelos rios que afloram desses remanescentes. E calcula-se que o bioma garanta o abastecimento de mais de 120 milhões de pessoas, abrigando rios do porte do Paraná, Tietê, Doce, Paraíba do Sul, São Francisco, Paranapanema e Ribeira do Iguape.
Mas é na relação complementar entre a floresta e a água que a importância da Mata Atlântica pode ser mais bem compreendida. Os remanescentes regulam a vazão dos rios, atenuando as enchentes, e, após as chuvas, permitem que a água escoe gradativamente.
Também filtram sedimentos, retidos na chamada mata ciliar, e melhoram a qualidade da água. O armazenamento da água da chuva em mananciais de superfície ou reservatórios subterrâneos ocorre ainda pela infiltração paulatina no solo, garantida pela folhagem, pelo tronco das árvores e suas raízes. E muitos dos processos erosivos são evitados por ação da cobertura florestal.
Por outro lado, a poluição e escassez da água são determinantes para a degradação das florestas.
Explica-se, assim, porque maciços florestais como o da Cantareira, inserido na Região Metropolitana de São Paulo, são responsáveis pelo equilíbrio climático da cidade, pela manutenção da umidade e, principalmente, pela produção de água para a população. Só o Sistema Cantareira abastece 46% da população paulistana, região na qual se localiza esse importante fragmento de Mata Atlântica.
Já em cidades como Bertioga, São Sebastião, Ubatuba e Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, praticamente toda a água consumida vem das nascentes que brotam na serra. O Parque Estadual da Serra do Mar, maior área legalmente protegida da Mata Atlântica do país, responde pela produção de água potável para boa parte do Vale do Paraíba, além do litoral centro e norte de São Paulo.
Benefícios propiciados pela natureza como esses dependem de mecanismos econômicos que os valorizem frente à necessidade de uso pelo ser humano. Da mesma forma que algumas matérias-primas possuem valor financeiro, os serviços prestados pelos ecossistemas, como a manutenção do equilíbrio hidrológico ou a capacidade de produção de água, precisam cada vez mais de instrumentos como a cobrança pelo uso da água ou a comercialização de créditos de carbono como forma de reconhecer sua importância e proteger a floresta da qual são parte.
PRINCIPAIS AMEAÇAS
Hoje, restam apenas 12.4% da área original do bioma, e ele tornou-se a quinta área mais ameaçada do planeta. Ainda assim, é uma das mais ricas em espécies endêmicas – ou seja, que só ocorrem ali – em todo o mundo. Das 20.000 espécies encontradas no bioma, 40% só podem ser encontradas lá.
A quase completa destruição da Mata Atlântica é consequência direta da superexploração que começou há mais de 500 anos, no século XVI quando os colonizadores aqui chegaram.
Inicialmente a ocupação portuguesa dessa terra que viria a se chamar Brasil, tinha um caráter unicamente extrativista com a exportação do pau-brasil utilizado para a tintura de tecidos e para construção.
A segunda grande investida veio com o início da colonização de fato com o ciclo da cana-de-açúcar. Grandes áreas de Mata Atlântica foram destruídas, não apenas para abrir espaço para os canaviais, mas também para alimentar as construções dos engenhos e as fornalhas da indústria do açúcar. O descaso ambiental era tão grande que, até o final do século XIX, ao invés de alimentar as caldeiras dos engenhos com o próprio bagaço da cana, prática rotineira no Caribe, optava-se por queimar árvores para servir de lenha.
No século XVIII, foram as jazidas de ouro que atraíram para o interior muitos portugueses. A imigração levou a novos desmatamentos, os quais se estenderam até os limites com o Cerrado, para a implantação de agricultura e pecuária. No século seguinte, foi a vez do café, que exerceu um grande impacto sobre o bioma. As florestas que cobriam o Vale do Paraíba, centro da produção cafeeira, foram destruídas com total falta de cuidado. O café, espécie de origem africana acostumado a crescer em áreas sombreadas, foi cultivado no Brasil em espaços abertos e desflorestados. As queimadas, feitas de forma descuidada, espalhavam-se pelas fazendas.
E, então, já na metade do século XX, chegou a vez da extração da madeira. No Espírito Santo, as matas passaram a ser derrubadas para fornecer matéria-prima para a indústria de papel e celulose. Em São Paulo, a implantação do Polo Petroquímico de Cubatão tornou-se conhecida internacionalmente como exemplo de poluição urbana. Esse processo desorientado de desenvolvimento ameaça inúmeras espécies, algumas quase extintas como o mico-leão-da-cara-dourada, a onça-pintada e a jaguatirica.
A exploração continua ainda hoje, os dados mais recentes do Atlas da Mata Atlântica revelam que entre outubro de 2022 e outubro de 2023, 14.697 hectares (ha) do bioma foram desmatados, ainda que o número represente uma queda de 27% em relação ao ano anterior (2021-2022) ainda é um índice alto considerando que se trata do nosso bioma mais degradado do país.
Você sabia?
- Em 1993, um estudo realizado por técnicos do Jardim Botânico de Nova Iorque identificou, na região da Reserva Biológica de Una, no sul da Bahia, a maior diversidade de árvores do mundo, com 450 espécies diferentes num só hectare de floresta.
- O primeiro parque nacional brasileiro foi criado em uma área de Mata Atlântica, em 14 de junho de 1937. O Parque Nacional de Itatiaia fica entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais e abriga 360 espécies de aves (incluindo gaviões, codornas e tucanos) e 67 espécies de mamíferos (como a paca, macacos e preguiças).
- Parte da Mata Atlântica foi reconhecida pela Unesco como Reserva da Biosfera no começo da década de 1990. A Reserva estende-se por cerca de 5 mil quilômetros ao longo da costa brasileira, com área total de 290 mil quilômetros quadrados.
- A queima de florestas, ainda comum nos dias de hoje, era a prática mais empregada na preparação da terra para o plantio no Brasil colônia. Em 1711, o jesuíta André Antonil estabeleceu regras para orientar o plantio da cana-de-açúcar: “roça-se, queima-se e alimpa-se, tirando-lhe tudo o que pode servir de embaraço”. Neste caso, o “embaraço” era a própria Mata Atlântica, cujas árvores serviam também como lenha para alimentar fornalhas da indústria do açúcar.
- No Brasil, existe uma data nacional dedicada ao bioma: 27 de maio, Dia da Mata Atlântica.
Espécies da Mata Atlântica
Atualmente, a Mata Atlântica abriga 261 espécies de mamíferos, 620 de aves, 200 de répteis e 280 de anfíbios, sendo que 567 espécies são exclusivas dessa região. Sua flora é representada por cerca de 20 mil espécies de plantas vasculares, das quais oito mil são endêmicas.
No que diz respeito à fauna, podemos destacar animais como a onça-pintada, o bicho-preguiça, o mico-leão-dourado e o muriqui-do-sul.
ONÇA-PINTADA (Panthera onca)
A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas e muito importante para as ações de conservação. Por estar no topo da cadeia alimentar e necessitar de grandes áreas preservadas para sobreviver, a onça-pintada, ao mesmo tempo temida e admirada, é um indicador de qualidade ambiental. A ocorrência desses felinos em uma região indica que ele ainda oferece boas condições que permitam a sua sobrevivência. A destruição de habitats aliada à caça predatória faz com que essas populações venham sendo severamente reduzidas. É classificada pela IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza) e pelo IBAMA como espécie vulnerável e está no apêndice I do CITES.
Originalmente, ela podia ser encontrada desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Atualmente, está oficialmente extinta nos Estados Unidos, é muito rara no México, mas ainda pode ser encontrada na América Latina, incluindo o Brasil. De maneira geral, porém, suas populações vêm diminuindo onde entram em confronto com atividades humanas. No Brasil, ela já praticamente desapareceu da maior parte das regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Vive em diversos tipos de habitat, desde florestas, como a Amazônica e a Mata Atlântica, até ambientes abertos, como o Pantanal e o Cerrado.
MICO-LEÃO-DOURADO (Leontopithecus rosalia)
O mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) chama a atenção pela cor vibrante de seus pelos, que varia de dourado a vermelho-dourado. Assim como outros micos e saguis da família Callitrichidae, seu pequeno porte, sua longa cauda e sua agilidade fazem desse animal um dos mais simpáticos animais da nossa fauna. Ele vive cerca de oito anos, tem hábitos diurnos e, à noite, dorme em ocos de árvores ou emaranhados de cipós e bromélias. Se alimenta de frutos, animais invertebrados e pequenos vertebrados. Alguns estudos mostram que o mico-leão-dourado come mais de 60 espécies de plantas e, depois de digeri-las, ajuda a dispersar suas sementes pelo ambiente.
Ele é um dos símbolos da luta pela conservação da diversidade biológica, uma vez que, há muito tempo, está ameaçado de extinção. A devastação da Mata Atlântica quase exterminou toda a população de micos-leões-dourados. Originalmente, a espécie era encontrada em todo o litoral fluminense, chegando até o Espírito Santo. Com a intensa ocupação da zona costeira no estado, acompanhada de extração de madeira e atividades agropecuárias, e a consequente destruição da mata, os micos-leões estão agora confinados a cerca de 20 fragmentos florestais.
MURIQUI-DO-SUL (Brachyteles arachnoides)
Também ameaçado de extinção, o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) é nativo da Mata Atlântica e também é conhecido como mono-carvoeiro. É o maior primata das Américas e é considerado um dos maiores “restauradores da floresta”, pois, em apenas um dia, pode dispersar sementes de até oito espécies de plantas. Com isso, o muriqui ajuda a conservar a Mata Atlântica, que abriga mananciais de água potável que abastecem os grandes centros urbanos do sudeste do Brasil.
Hoje, restam pouco mais de 1.200 indivíduos e sua população segue em declínio. Quer tentar observar um muriqui em seu habitat natural? Os locais de maior chance de avistamento são o Parque Estadual Carlos Botelho, em São Miguel Arcanjo (SP), e o Parque Estadual do Desengano, no norte do estado do Rio de Janeiro.
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