O comumente chamado chuveirinho ou sombreiro é membro da numerosa família das sempre-vivas. As listas oficiais trazem quase 800 espécies da família para o Brasil, distribuídas principalmente em unidades de conservação e regiões preservadas no Cerrado, mas também na Caatinga e na Mata Atlântica. As espécies florescem normalmente de março a julho.

De aparência inconfundível, ainda mais quando lançam suas hastes e flores brancas em meio a campos e outras formações da savana brasileira, as sempre-vivas têm forte apelo paisagístico e grande potencial para extrativismo e artesanato. Um dos exemplos mais reconhecidos é o do tradicional capim-dourado, no Tocantins. Há experimentos para plantios comerciais em curso.

Geralmente restritas a pequenas áreas e sofrendo com a destruição de seu hábitat pelo fogo, garimpo, mineração, expansão da agricultura, pecuária e, em alguns casos, pelo extrativismo descontrolado, as sempre-vivas formam um dos grupos mais ameaçados no país.

Algumas espécies, inclusive, são consideradas extintas, como: Eriocaulon melanolepis Silveira, Leiothrix gomesii Silveira, Leiothrix linearis Silveira, Paepalanthus argenteus var. elatus (Bong.) Hensold, Paepalanthus lepidus Silveira e Paepalanthus perbracchiatus Silveira.

Estimativas oficiais apontam que uma em cada cinco espécies exclusivas do Cerrado já não sobrevivem em unidades de conservação. Das 472 espécies na lista da flora brasileira ameaçada de extinção, 132 (28%) estão no bioma.

Logo, frear a destruição do Cerrado e de outros biomas, bem como ampliar suas áreas oficialmente protegidas, são ações fundamentais para reduzir a ameaça de desaparecimento dessas belíssimas plantas nativas do Brasil.


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Por Marcelo Trovó Lopes de Oliveira do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Paulo Takeo Sano, do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo


Paepalanthus chiquitensis Herzog é a espécie mais representativa de um grupo de plantas conhecidas popularmente como “chuveirinho”. Ela ocorre principalmente nos cerrados do Brasil Central. Sua distribuição geográfica é bastante ampla, ocorrendo em todo o Centro-Oeste e partes do Norte e do Sudeste. Algumas populações são encontradas também na Venezuela, Colômbia e Bolívia. Nesta última, ocorre na região de Chiquitos, local que dá nome a espécie.

A planta está presente em diversas fisionomias do Cerrado, em especial nos campos de altitude e campos rupestres. Grandes populações crescem dentro do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. No período reprodutivo, a espécie deixa de ter o aspecto semelhante ao de uma bromélia e emite um eixo alongado com cerca de 2 metros. No ápice deste eixo, surge uma vistosa inflorescência que se destaca na paisagem. Um fato curioso é que os indivíduos morrem após este explosivo evento de reprodução.

Os indivíduos são encontrados com flores e frutos durante o ano todo, em especial após o período das chuvas. As flores são polinizadas por besouros, percevejos, vespas e moscas, e a dispersão dos frutos e sementes se dá pelo próprio envelhecimento da planta. Apesar de exuberante, a espécie possui pouca importância econômica. De difícil cultivo, apenas algumas inflorescências secas são pontualmente comercializadas.

Apresentando grandes populações e uma ampla distribuição geográfica, Paepalanthus chiquitensis não é considerada ameaçada de extinção. No entanto, o acelerado avanço de monoculturas sobre o Cerrado causa preocupação. A implantação do Plano Nacional de Conservação das Sempre-Vivas é uma peça fundamental para reverter este processo e reduzir os impactos sobre as populações naturais destas plantas.


© Flora do Brasil


Fotos: Chuveirinho

Créditos:

Giulietti, A.M.; Sano, P.T.; Costa, F.N.; Parra, L.R.; Echternacht, L.; Tissot-Squali, M.L.; Trovo, M.; Watanabe, M.T.C.; Hensold, N.; Andrino, C. 2013.
Eriocaulaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

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