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Projeto Emergência Amazônica completa dois anos com benefícios diretos a mais de 70 mil pessoas

Desde 2019, o WWF-Brasil vem fortalecendo parcerias para ampliar a capacidade de organizações da sociedade civil e do poder público no combate a queimadas e em ações de proteção territorial; 36 iniciativas foram conduzidas desde então, abrangendo 19% do território da Amazônia

 

10 de setembro de 2021

 

A situação ambiental da Amazônia era crítica em agosto de 2019, quando o WWF-Brasil iniciou o projeto Emergência Amazônica, que agora completa dois anos. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre 1º de janeiro e 31 de agosto de 2019 o desmatamento havia aumentado 92% e as queimadas, 49% – em relação ao mesmo período de 2018. Ao longo de 2020, a pressão sobre o bioma se manteve em níveis semelhantes. E, de acordo com dados preliminares, a tendência é que 2021 termine com índices de devastação tão altos quanto nos últimos tempos. Na comparação entre os primeiros oito meses de cada ano, foram desmatados 6,4 mil km2 em 2019, 6 mil km2 em 2020 e novamente 6 mil km2 em 2021.

O ano de 2019 acabaria com mais de 10 mil km2 de desmatamento e 89 mil focos de queimadas: salto de 85% e 30%, respectivamente, em relação aos números de 2018. Foi nesse contexto de crise que o WWF-Brasil lançou o Emergência Amazônica. Focados em aumentar a capacidade das comunidades locais para combater queimadas e proteger seus territórios, os projetos envolvidos nessa iniciativa chegaram a mais de 19% da Amazônia Legal (ou 94 milhões de hectares), em 6 Estados, beneficiando diretamente mais de 70 mil pessoas e, indiretamente, mais de 3,7 milhões.

Em dois anos, foram realizados 58 cursos, para cerca de 3 mil pessoas, além de doações de mais de 7,1 mil itens para combate ao fogo e ações de proteção territorial. Pelo menos 70 povos indígenas foram beneficiados, em mais de 140 Terras Indígenas e Unidades de Conservação. "Na metade de 2019, as graves notícias sobre a devastação do bioma sensibilizaram a comunidade internacional e foi possível levantar recursos suficientes para financiar um projeto robusto, de grande alcance", lembra Osvaldo Barassi Gajardo, especialista em conservação do WWF-Brasil.

Graças ao apoio da Rede WWF, o WWF-Brasil conseguiu obter recursos em tempo recorde para financiar ações desenvolvidas por organizações locais. "Quase R$ 9 milhões foram investidos nos projetos de Emergência Amazônica nesses dois anos", diz Gajardo. Dois grandes eixos foram priorizados: combate às queimadas e proteção territorial em Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs). "O projeto é fundamentado na articulação com instituições locais e já estabeleceu 36 parcerias, sendo 26 com organizações da sociedade civil e 10 com órgãos públicos", acrescenta.

 

Luta contra o fogo

Na vertente da luta contra as queimadas, diversos projetos capacitaram e equiparam brigadas comunitárias. Em parcerias com organizações da sociedade civil e com o poder público, foram realizados treinamentos, além da doação de equipamentos de proteção pessoal e de combate ao fogo. Em vários casos foram doados também componentes tecnológicos, como computadores e drones, para fortalecer a proteção territorial por meio do que existe de mais moderno no campo da conservação da natureza.

À Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas, por exemplo, o WWF-Brasil doou mais de 1.400 peças para combate ao fogo em 20 UCs que já possuíam brigadas. “Capacitamos nossos brigadistas e precisávamos equipá-los. Com essa doação reforçamos o trabalho no Mosaico do Baixo Rio Negro”, explica Miqueias Souza, gestor de uma das UCs beneficiadas, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro.

Uma parceria semelhante permitiu a doação à Secretaria de Meio Ambiente do Acre de 696 peças de combate ao fogo para a formação de brigadas nas nove UCs estaduais. O órgão capacitou 40 brigadistas - todos moradores das UCs, com apoio do Corpo de Bombeiros e do Batalhão de Policiamento Ambiental do Acre (BPA-AC). Já o Corpo de Bombeiros do Acre recebeu 163 peças. “Por meio dessas parcerias, fomos equipados para uma melhor ação de combate ao fogo”, diz o tenente Freitas Filho, responsável por coordenar as capacitações.

Houve também atuação da corporação em outros estados. No fim de 2020, em Porto Velho (RO), os bombeiros formaram 15 brigadistas, todos agricultores de Ponta do Abunã, na divisa com o Acre. A atividade fazia parte de projeto do WWF-Brasil em parceria com a Associação dos Pequenos Agrossilvicultores do Projeto Reca, de Rondônia. “Durante as aulas fomos percebendo que, se já dominássemos aqueles conhecimentos, o trabalho de combate às chamas teria saído bem melhor em 2019”, diz Fábio Vailatti, coordenador do Projeto Reca, que também recebeu 46 itens de combate ao fogo.
 

Parcerias em profusão

Aos bombeiros do Amazonas, o WWF-Brasil doou 691 peças de combate ao fogo. "Toda organização que se dispõe a uma parceria com o Corpo de Bombeiros no combate às queimadas soma esforços na missão de salvar vidas e o meio ambiente”, elogiou o comandante do Batalhão de Incêndio Florestal dos Bombeiros do Amazonas, tenente-coronel Sulemar Barroso.

Os bombeiros do Amazonas também ajudaram a capacitar brigadistas em um projeto do WWF-Brasil com a Fundação Vitória Amazônica (FVA). "Além de treinar mais de 60 brigadistas, desenvolvemos estratégias de prevenção e campanhas de conscientização", reforça Marcos Pinheiro, consultor que deu apoio ao curso para os brigadistas e que ajudou a elaborar a proposta da FVA.

O projeto com a FVA capacitou moradores de comunidades do Mosaico do Baixo Rio Negro, beneficiando cerca de mil pessoas. De acordo com Fabiano Lopez da Silva, coordenador-executivo da FVA, é fundamental fortalecer as brigadas nessas regiões: "Na região central do Amazonas, muitas queimadas estão associadas à abertura de estradas irregulares e à lida com roçados”.

Em regiões onde não há Corpo de Bombeiros, o fortalecimento de brigadas se torna ainda mais importante. É o caso de Apuí, no sul do Amazonas. Ali, em parceria com o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), o WWF-Brasil levou a pequenos produtores técnicas que substituem o uso do fogo na limpeza de roçados. O projeto doou ferramentas e equipamentos para 15 brigadistas.

 

Componente tecnológico

O uso da tecnologia – em especial os drones – também tem sido um importante diferencial para diversos projetos de Emergência Amazônica, voltados tanto para combate ao fogo quanto para proteção territorial. Um dos casos de maior sucesso foi o projeto do WWF-Brasil em parceria com a BPA-AC, que apoiou o trabalho de 57 policiais na defesa de áreas protegidas do Acre, com doações de drones, telefone via satélite, tablets, computadores, notebooks, celulares e GPS.

"Com o drone, a diferença no trabalho foi brutal. Os resultados foram tão bons que depois tivemos demanda para outros treinamentos", comentou o comandante do BPA-AC, major Kleison Albuquerque. Com o equipamento, o BPA-AC realizou mais de 80 ações de fiscalização de áreas protegidas, invasões, desmatamento ilegal e queimadas.

O BPA-AC disseminou ainda os conhecimentos adquiridos, realizando treinamento para outros nove agentes – sete do próprio Batalhão e dois bombeiros. "Com o uso do drone, temos conseguido ser muito mais eficientes na fiscalização ", conta o tenente Freitas Filho, do Corpo de Bombeiros do Acre. Ao todo, o BPA-AC já capacitou 39 pessoas.

A tecnologia ajuda a qualificar as denúncias de crimes ambientais, destaca Albuquerque, com a comprovação da materialidade dos crimes a partir das coordenadas, fotos e vídeos. O Ministério Público do Acre (MPAC), que recebe as denúncias, também foi beneficiado com drones e computadores de alta capacidade doados pelo WWF-Brasil.

"Usamos o drone na produção de relatórios técnicos e as equipes de campo verificam as denúncias. Graças à doação, podemos fazer isso com muito mais rapidez e as imagens são provas inequívocas do crime", explica Artur Leite, coordenador do núcleo técnico-científico da área ambiental do MPAC.

Já o fortalecimento de brigadas anti-incêndios foi o foco de um projeto com a Comissão Pró-Índio (CPI) do Acre. Lideranças Shanenawa e Huni Kuin se reuniram na Terra Indígena Katukina/Kaxinawá para uma capacitação de brigadistas. A TI, que vive sob constante pressão, fica em Feijó, um dos municípios com mais queimadas no Acre.

“Para o nosso povo, é muito importante passarmos por essas capacitações. Conhecendo as técnicas corretas para enfrentar o fogo, vamos ter melhores condições de proteger nossas comunidades”, diz Ismael Shanenawa, uma das lideranças de seu povo.


 

Proteção territorial

Os drones também foram importantes para várias ações na área de proteção territorial. Um dos exemplos mais emblemáticos é o conjunto de projetos realizados em parceria com associações do Mosaico de Áreas Protegidas do Gurupi, um território de 17,9 mil km2 situado entre o oeste do Maranhão e o leste do Pará.

Os trabalhos fortaleceram a proteção no Mosaico e ajudaram seus habitantes na integração de esforços de monitoramento de suas áreas. As parcerias foram estabelecidas com associações indígenas de quatro das seis TIs que compõem o Mosaico: Alto Rio Guamá, Alto Turiaçu, Caru e Rio Pindaré.

Além de drones, os projetos envolveram a compra de quadriciclos, GPS, rádios-comunicadores, computadores, ferramentas de combate ao fogo e insumos para expedições. Segundo os representantes das associações, essa iniciativa ampliou a integração de brigadas e Guardiões da Floresta nas TIs do Mosaico.

"Nosso grupo de Guardiões e nossa brigada de incêndios já tinham parcerias com os vizinhos. Mas o projeto com o WWF-Brasil abrangendo as quatro TIs aprofundou esse vínculo", diz João Guajajara, conhecido como Branco, secretário da Associação Indígena Comunitária Wirazu, da TI Caru.

"Esses equipamentos foram fundamentais para que os Guardiões pudessem coibir a entrada de madeireiros e caçadores ilegais - os principais problemas no nosso território", acrescenta Valsanta Tembé, presidente da Associação das Mulheres Indígenas do Gurupi, na TI Alto Rio Guamá.

Nesta mesma linha, a proteção territorial também foi reforçada nas TIs Baú e Menkragnoti, numa parceria com o Instituto Kabu. Com doação de drones, laptops, câmeras fotográficas, canoas, motores de barcos e combustível, o projeto equipou três bases de vigilância nas duas TI's, que têm 1,2 mil habitantes. “Essa parceria é muito boa para nós, porque poderemos proteger melhor o nosso território. Há muita pressão de madeireiros, pescadores e garimpeiros", disse o líder indígena Tomeikwa Bepakati, presidente do Instituto Kabu.


 

Conectando comunidades

Com a Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Rio Iriri (Amoreri), no Pará, a parceria permitiu a estruturação de um sistema de comunicação, com transmissão de dados criptografados via rádio, e instalação de pontos de internet em aldeias. “Graças ao projeto, quando detectamos uma ameaça podemos pedir ajuda ao MPF e ao Ibama de forma mais reservada. Antes, era preciso usar o rádio amador, o que não era seguro por causa da frequência aberta: os madeireiros e garimpeiros podiam ouvir tudo”, diz Francinaldo Lima, consultor técnico da Amoreri.

O contrato beneficia também a Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Rio Xingu (Amomex) e a Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio (Amora). Com área 1,4 milhões de hectares, as três reservas abrigam 1.350 pessoas. No total, 570 participaram de oficinas de operação do sistema de transmissão digital.

Conectadas à internet, as comunidades agora podem monitorar focos de queimadas e planejar ações de vigilância.

No sul do Amazonas, a capacitação para proteger o território e combater queimadas foi o foco de um projeto em parceria com a Associação do Povo Indígena Jiahui (APIJ). Mais de 80 Jiahui participaram de um treinamento de agentes ambientais indígenas voltado para a prevenção e combate ao fogo. Também foram repassadas noções de operação de GPS e outras tecnologias para a gestão e monitoramento territorial.

 

Brigadistas capacitados

Entre as 18 organizações de 5 estados da Amazônia que receberam 20 drones em projetos com o WWF-Brasil está a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, com base em Porto Velho. “Antes, nós usávamos informações via satélite, que sempre vinham com algum atraso. Quando chegávamos na área, ela já estava queimada. Com os drones, você consegue identificar o desmatamento ou queimada e fazer uma denúncia imediatamente”, explicou Israel Valle, coordenador-geral da entidade.

Em dezembro de 2019, o WWF-Brasil promoveu em parceria com a Kanindé um treinamento de pilotagem de drones para 40 pessoas, incluindo dois Uru-eu-wau-wau. No primeiro semestre de 2020, a Kanindé deu início à replicação desses conhecimentos, promovendo outro treinamento para 15 indígenas Uru-eu-wau-wau. “Em vez de gastar um dia inteiro andando pela mata, gastamos metade desse tempo e cobrimos uma área muito maior. O drone melhora a qualidade do dado e a coleta de informações”, destaca Valle.
 

A pandemia da Covid-19

Apesar das limitações decorrentes da pandemia, adaptamos agendas e fizemos ações pontuais em campo, seguindo os protocolos da Organização Mundial da Saúde. Mas não paramos de trabalhar. Desde que a Covid-19 se espalhou pelo país, o WWF-Brasil tem batalhado para minimizar o sofrimento das populações mais fragilizadas – que, além da doença, sentem os efeitos econômicos da crise.

Na Amazônia, ajudamos a instalar quatro Unidades de Atenção Primária Indígena (Uapi), para atendimento a 4,6 mil pessoas, e a equipar cinco Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei), com potencial para beneficiar outras 24 mil. Entre os itens entregues, estão mais de: 300 protetores faciais; 8,8 mil litros de álcool 70%; 159 mil máscaras descartáveis; 1,6 mil máscaras N95; 800 macacões TNT 100% e 160 termômetros digitais infravermelhos – além de 89 macas e 120 oxímetros de pulso.

Em parceria com mais de 70 organizações, incluindo a Coiab, a Aliança para o Desenvolvimento Sustentável do Sul do Amazonas e o CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas), entregamos mais de 217 toneladas de alimentos em oito estados da Amazônia Legal, beneficiando no total mais de 9,1 mil famílias indígenas, extrativistas, rurais, periurbanas e de comunidades tradicionais – ou 35,8 mil pessoas. Cerca de R$ 3,3 milhões foram empregados nos projetos ligados ao enfrentamento da Covid-19.

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