Sem acesso à luz ou à água: a realidade de quem vive sem energia na Amazônia
maio, 29 2020
Durante 10 dias a Expedição Solar instalou sistemas solares e mostrou sua viabilidade econômica e social
Durante 10 dias a Expedição Solar instalou sistemas solares e mostrou sua viabilidade econômica e socialPor Bruna M. Cenço
Para quem mora em regiões metropolitanas, não ter eletricidade pode significar ficar um tempo sem televisão, internet, chuveiro quente. Mas tudo de forma pontual. Agora, imagine como é viver permanentemente assim. Para algumas comunidades isoladas da região amazônica, não ter eletricidade significa não ter geladeira para armazenar alimentos ou resfriar a água para consumo. Isso mesmo nos dias mais quentes, que ultrapassam em muito os 30 graus. Ventiladores também não são uma opção, assim como ter uma iluminação decente para estudar em casa, depois que anoitece.
Neste Dia Mundial da Energia (29 de maio), o WWF-Brasil te convida a se imaginar nesta outra realidade e viajar conosco para o sul do Amazonas, onde a eletricidade 24 horas por dia ainda é um sonho. Em pleno século XXI, ainda há cerca de um milhão de brasileiros que vivem desta forma, sem acesso pleno à energia. A maioria deles está na região Norte do país, em comunidades isoladas da Amazônia, o que torna a vida ribeirinha ainda mais difícil.
O documentário "Expedição Solar", produzido pelo WWF-Brasil em parceria com o ICMBio, foi gravado durante uma viagem por 10 dias pelo Rio Purus, próximo à cidade de Lábrea, e conta a história do projeto piloto Resex Solar, que está levando energia solar para comunidades da região e beneficiando centenas de pessoas com iluminação para escolas e bombeamento de água.
De acordo com a responsável pelo projeto, Alessandra Mathyas, além da realidade dura dos ribeirinhos, o que se vê no documentário é uma grande demonstração de amor pela natureza e pelo local onde vivem. “Hoje, essas pessoas enfrentam dificuldades enormes para continuarem em suas terras. Levar energia solar para essas comunidades é relativamente simples e representa uma melhoria enorme na qualidade de vida dessas pessoas, que têm os mesmos direitos de quem vive nas cidades”.
A falta de energia em toda uma comunidade traz ainda outros problemas. A crise de abastecimento e saneamento de água, que atinge grande parte do país, em especial as famílias da região Norte, também esta presente nas comunidades ribeirinhas. Sem eletricidade para fazer o bombeamento, crianças e mulheres, principalmente, têm que que buscar água sem tratamento diretamente do rio, trazendo a água aos poucos e em baldes Para isso, durante a época das secas, sobem e descem até 50 metros de ladeiras várias vezes por dia, se equilibrando em pequenas toras de madeira em meio à lama.
Sobre a iniciativa
O Resex Solar é um projeto piloto que começou em 2016 e busca demonstrar a viabilidade financeira de implantar sistemas de energia solar em comunidades isoladas, em especial da Amazônia. Com valores menores, mais empregos criados e menos poluição do que as alternativas fósseis (como pequenos geradores a gasolina ou diesel ou grandes usinas térmicas a gás ou carvão mineral, entre outros), a geração de energia solar descentralizada mostra-se como a melhor opção para este cenário. Além de implantar a geração em algumas comunidades das Resex Ituxi e Médio Purus, o WWF-Brasil também avaliou projetos desenvolvidos na Amazônia com energia solar que mostram sua viabilidade econômica, ambiental e social.