10 verdades sobre o desmatamento
abril, 14 2020
Material te ajuda a detectar mentiras e armadilhas sobre desmatamento que circulam nas redes sociais
Material te ajuda a detectar mentiras e armadilhas sobre desmatamento que circulam nas redes sociais Por Renata Peña
O desmatamento ameaça nossas principais florestas: em 2019, alcançamos índices recordes na Amazônia e no Cerrado. Essa devastação prejudica a biodiversidade -milhares de espécies de animais e plantas (algumas delas importantíssimas para a produção de medicamentos)- e também a sobrevivência dos povos tradicionais.
Porém, existe uma forma de administrar uma floresta e obter dela benefícios econômicos e sociais e ao mesmo tempo respeitar o ecossistema: é o manejo florestal sustentável. Por meio de um planejamento detalhado, ele viabiliza a exploração sem prejudicar a sociobiodiversidade existente no local. Ou seja, é possível conservar as espécies de animais e de plantas e também o modo de vida e de subsistência das pessoas.
Para ajudar você a detectar mentiras e armadilhas quando o tema são as florestas e o desmatamento, preparamos uma série de respostas a algumas das mentiras mais difundidas hoje na internet. Veja quais são os 10 mitos mais comuns e as verdades por trás de cada um.
MITO 1: o monitoramento do desmatamento na Amazônia é manipulado
VERDADE: o monitoramento do desmatamento na Amazônia é considerado o melhor do mundo e seu modelo é copiado em vários países
Desde 1988 os dados de desmatamento na Amazônia são disponibilizados gratuitamente no site do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações. O INPE possui dois sistemas de monitoramento: um é o Prodes (Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite) e o outro é o Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real). O Prodes é reconhecido internacionalmente como o melhor sistema de monitoramento de florestas tropicais do mundo e, segundo diversos especialistas, inspirou a criação de diversos sistemas parecidos em outros países.
MITO 2: o manejo florestal sustentável é pernicioso para o meio ambiente
VERDADE: O manejo florestal sustentável é um modelo que permite a exploração racional com técnicas de mínimo impacto ambiental sobre os elementos da natureza
No Decreto nº1.282, de 19.10.95, o termo manejo florestal sustentável é definido como administração de floresta para a obtenção de benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema. O manejo sustentável deve ser economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente justo, priorizando a floresta "em pé”. Também possibilita que as populações nativas vivam dos recursos proporcionados pela própria floresta. Ao mesmo tempo que as populações evitam a derrubada da floresta, recebem um valor econômico.
MITO 3: a madeira é o principal valor da floresta amazônica
VERDADE: os serviços ambientais prestados pela floresta são o grande valor da Amazônia
A floresta oferece à humanidade muito mais do que apenas madeira. Pesquisadores estimaram em mais de R$ 1,5 trilhão de dólares os serviços de estocagem e sequestro de carbono, evitando assim que ele seja lançado como gás de efeito estufa. Além disso, a Amazônia também oferece uma infinidade de frutos nativos ricos em nutrientes e plantas importantíssimas para a produção de medicamentos. A Amazônia garante a estabilidade do clima e da biodiversidade e possui papel fundamental no ciclo hidrológico. O vapor d’água gera a precipitação não só na Amazônia, mas também na região centro-sul do Brasil, bem como em países vizinhos.
MITO 4: o ponto de não retorno da Amazônia não existe
VERDADE: O ponto de não retorno pode chegar entre 15 e 30 anos
Especialistas renomados de todo o planeta e diversos estudos afirmam que o ritmo acelerado do desmatamento está levando a floresta amazônica a uma situação na qual a floresta não consegue mais se regenerar diante das agressões provocadas pelo homem. Esse "ponto de não retorno" pode chegar já entre 15 a 30 anos se o ritmo da devastação for mantido ou aumentar.
MITO 5: o corte seletivo e a regeneração natural não são a melhor forma de manejar a floresta tropical
VERDADE: Mesmo a extração legal de madeira tem efeitos negativos sobre a floresta
Embora a extração seletiva tenha por alvo apenas as árvores com valor comercial, os métodos de extração geralmente provocam danos colaterais. Segundo o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), para cada árvore comercial que é retirada, são danificadas outras 27 árvores com mais de 10 cm de diâmetro, são construídos 40 m de estradas e são abertos 600 m² no dossel florestal.
MITO 6: os locais de maior diversidade em todo mundo são os ambientes cultivados pelo homem
VERDADE: a destruição da floresta para implantação de um sistema agrícola ocasiona grande perda de biodiversidade
O cultivo de espécies agrícolas, praticado principalmente para obtenção de alimento, geralmente exercem pressões socioambientais e geram grandes impactos. Quando se destrói uma floresta natural para implantação de um sistema agrícola, ocorre uma grande perda de biodiversidade (o local que abrigava milhares de espécies passa a abrigar apenas uma ou duas). Por consequência, o clima local e o regime de chuvas são alterados. O Brasil é um dos países mais ricos em biodiversidade do mundo. Junto com outros 16 países, é responsável por 70% da biodiversidade do planeta. Nossos cinco biomas terrestres (Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga e Campos do Sul) abrigam 20% das espécies do planeta, constituindo 20% da flora global. A lista de espécies da flora do Brasil publicada pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), identificou 46.097 espécies, entre plantas, algas e fungos. Cerca de 43% dessas espécies são endêmicas (exclusivas) do território nacional, colocando o Brasil como o país com a maior riqueza de plantas no mundo. Esse número cresce a cada dia, pois novas espécies são identificadas e descritas. Em média, identifica-se 250 novas espécies por ano.
MITO 7: o manejo florestal sustentável promove a concentração de renda e a exclusão social
VERDADE: a exploração dos recursos florestais de forma sustentável, na maioria das vezes pelas populações tradicionais, é um fator importante de geração de renda local e promoção do desenvolvimento sustentável
Proporcionaria mais que trabalho, mas uma renda significativa para os agricultores familiares. A finalidade é a de obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema.
MITO 8: não há exemplos de como o manejo florestal sustentável ajuda as comunidades locais
VERDADE: Um exemplo de como o manejo florestal sustentável promove a geração e a distribuição de renda é o trabalho desenvolvido pela Cooperativa Mista da Flona Tapajós, Coomflona
Essa organização de base comunitária possui uma concessão florestal para fazer o aproveitamento madeireiro e não madeireiro dentro da Floresta Nacional do Tapajós, Unidade de Conservação Federal de aproximadamente 512 mil hectares. A Cooperativa foi criada em 2005 e desde então executa atividades de Manejo Florestal Comunitário dentro da Flona, beneficiando diretamente cerca de mil famílias que vivem dentre desta Unidade de Conservação de Uso Sustentável. A criação da cooperativa foi motivada pela mobilização das lideranças locais, com o objetivo de minimizarem a exploração ilegal dos recursos florestais em suas comunidades. Após debates e seminários sobre o assunto, fomentados pelo Projeto ProManejo do IBAMA, a população local optou pela criação da cooperativa. A Coomflona possui Plano de Manejo Florestal Sustentável aprovado IBAMA, e recebeu em 2013 o Selo do FSC (Forest Stewardship Council), que possibilita à Cooperativa acessar mercados mais exigentes, preocupados com a origem do produto, tendo em vista que a certificação indica que a madeira extraída resulta de um manejo responsável socialmente, ambientalmente e economicamente.
MITO 9: o uso intensivo e extensivo de madeira tropical que vai garantir a perenidade das florestas
VERDADE: Incentivada pela elevada demanda por produtos madeireiros, a extração legal e ilegal de madeira é uma causa importante da destruição da floresta amazônica
Embora a extração sustentável de madeira possa ser uma fonte de renda de longo prazo, muitas vezes a atividade não é feita de acordo com esses padrões. É comum que pessoas e empresas interessadas na exploração madeireira optem por tocar seus negócios de forma ilegal. Isso provoca vários impactos de amplo alcance, inclusive a fragmentação do habitat das espécies e significativas perdas financeiras. Grandes áreas de floresta são griladas e vendidas a preços abaixo de mercado. Essas áreas costumam ser terras públicas, e as instituições estatais não conseguem ter controle total sobre sua ocupação. Documentos falsos são preparados e uma extensa rede de corrupção é envolvida no esquema, para garantir o sucesso do negócio ilegal. Segue-se, então, um esforço apressado de maximizar a extração de madeira e obter a maior quantidade de lucro o mais rapidamente possível. Resguardar os estoques de madeira para futuras colheitas tem sido objeto de pouca consideração. Em seguida, as áreas degradadas são destinadas à agricultura e à pecuária. As consequências são graves: perda de biodiversidade, aumento do risco de extinção de animais silvestres e perda dos serviços ecológicos prestados pela floresta, como a manutenção do clima e do ciclo hidrológico.
MITO 10: derrubar a floresta não acaba com a água infinita da Amazônia
VERDADE: o homem está secando a água da Amazônia
Um estudo inédito do WWF-Brasil e do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), publicado na revista científica Water/MDPI revelou dados extremamente preocupantes: em média foram perdidos 350 km2 de área coberta por ambientes aquáticos por ano desde a década de 1980 –áreas úmidas como várzeas, mangues e lagos. O documento mostra que a diminuição de áreas alagadas é causada pelas alterações no regime de chuvas, mas também pelo desmatamento e uso do solo, e pela realização indiscriminada de obras de infraestrutura, como por exemplo barragens para a produção de energia. Isso traz consequências graves, tanto para o meio ambiente como para as pessoas, porque a redução de área alagada diminui a população de peixes, os estoques pesqueiros e o consumo de proteína pela população local.
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