Clima: Reunião da ONU em Bonn faz progressos no trabalho técnico rumo à COP25
junho, 28 2019
Encontro anual terminou nesta quinta-feira com avanços esperados
Por WWFBONN, Alemanha - A reunião anual que acontece entre as conferências com negociadores do Clima terminou ontem em Bonn e foi extremamente processual, conforme esperado. Com isto, as principais questões nas negociações – comércio do mercado de carbono e perdas e danos - progrediram suficientemente para a próxima rodada de negociações em Santiago, na COP do Chile, em dezembro.
Porém, como responder à aos alarmantes dados científicos de mudanças climáticas foi tema de discussões acaloradas entre as Partes. Como os recordes de temperatura caíram em toda a Europa esta semana, os ânimos se exaltavam algumas vezes nas discussões do Relatório Especial sobre Aquecimento Global do IPCC, de 1,5 °C.
Uma das principais conclusões do relatório é a grande diferença no impacto negativo sobre populações e natureza vulneráveis em relação a um aquecimento de 1,5 °C ou 2 °C. Mas, em Bonn, as Partes não conseguiram sequer concordar em se referir a 1,5 °C como meta.
O especialista do WWF-Brasil em negociações climáticas, Mark Lutes, ressaltou que fora das salas de negociação climática houve vários avanços nesta semana. Alguns exemplos, de acordo com ele, foram o Reino Unido colocando as emissões líquidas zero para 2050 ou a Dinamarca se comprometendo a reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 70% para 2030. Porém, em Bonn, as coisas seguiram o processo.
“Na reunião, o que chamou a atenção foram discussões acaloradas sobre como as Partes responderão ao Relatório Especial do IPCC sobre 1.5 °C. O debate é um sinal do que está em jogo na resposta à crise climática e aos dados científicos sobre 1,5 °C. As partes precisam incorporar o conteúdo do relatório na revisão de suas metas climáticas nacionais (NDCs)”, diz Lutes.
Muitos países em desenvolvimento, incluindo alguns dos mais pobres e menos responsáveis pela crise climática, declararam que estão revisando suas NDCs. Mas, até agora, há menos movimento que o necessário de economias desenvolvidas e emergentes.
“Se UE, Japão, Canadá e outros países desenvolvidos do G20 não entrarem a bordo com metas de emissão zero antes de 2050 e revisão de suas metas para 2030 alinhadas a 1,5 °C, junto com o apoio ampliado aos países mais pobres, não conseguiremos agir em relação ao aquecimento e à adaptação aos eventos climáticos cada vez mais graves ”, diz Lutes.
Os países estavam sentindo a pressão para entregar até a COP25 um resultado ao Artigo 6 do Acordo de Paris, que lida com medidas de mercado e não mercantis. Eles trabalharam duro para refinar os conceitos ao longo do texto e apresentar propostas de conciliação que serão discutidas no Chile. De uma perspectiva legal, os países podem começar a fazer transações e usar os resultados de mitigação a partir de 2020, com base no Acordo de Paris.
Embora a revisão das metas climáticas nacionais não estivesse explicitamente na agenda de Bonn, ela certamente estava pairando sobre a sessão e foi assunto de muitas conversas e reuniões. O apelo a uma ação decisiva sobre a crise climática por parte de jovens e cidadãos que marcharam em Aachen, a oeste de Bonn, no início da semana, contrastou fortemente com o ritmo lento e a falta de ambição demonstrados por muitos partidos dentro da conferência.
Fernanda de Carvalho, gerente global de políticas climáticas do WWF, comentou a necessidade de ações urgentes até o final do ano, utilizando a Cúpula Sobre Ação Climática da ONU, em setembro, como uma boa oportunidade:
"As discussões em Bonn nos mostraram que ainda há muito a ser alcançado antes da COP25 em Santiago, no Chile. Enquanto os impactos estão aumentando e um número crescente de cidadãos e jovens está exigindo uma ação climática, as ações políticas são lentas e não se movem no ritmo que é necessário. A Cúpula sobre Ação Climática de 2019, do Secretário-Geral da ONU, representa uma oportunidade única para compromissos ambiciosos serem feitos neste ano. Conforme disse o secretário-geral da ONU, os países devem responder à crise e às demandas climáticas com ‘planos, não discursos’. Nós não poderíamos concordar mais”, diz Fernanda.