WWF leva mais quatro sistemas solares a comunidades isoladas da Amazônia
setembro, 28 2017
Projeto visa ampliar produção extrativista, com aumento de renda para a população
O município de Lábrea registra os maiores índices de desmatamento de todo o estado do Amazonas e, nacionalmente, ocupa a 3ª posição neste triste ranking. Reverter este quadro só é possível por meio do fortalecimento das organizações sociais e do apoio à produção extrativista, ampliando a renda dos moradores locais e diminuindo a dependência dos recursos oriundos do desmatamento para madeira ilegal ou criação de gado.Uma das formas para chegar a este fortalecimento é por meio da combinação do uso de elétrica de fonte limpa, com redução do óleo diesel e gasolina, com o aumento da produção extrativista, o que resulta em mais renda e qualidade de vida para populações que vivem de forma isolada no sul do Amazonas. Este é o objetivo do Projeto Resex Produtoras de Energia Limpa, uma iniciativa do WWF-Brasil e do ICMBio que começou em 2016 e acaba de fazer a segunda leva de instalações de sistemas solares.
Depois de ter capacitado moradores das duas reservas extrativistas da região em instalação de sistemas fotovoltaicos – com o apoio do Instituto Mamirauá - e implantado o primeiro sistema em uma escola na comunidade de Cassianã, acabando com o barulho e a poluição produzidos pelo gerador a diesel, agora, em setembro, o WWF-Brasil retornou às reservas extrativistas de Lábrea/AM para instalar quatro novos sistemas de energia solar fotovoltaica.
A escolha dos sistemas elétricos com energia solar fotovoltaica para uso produtivo foi feita pelas próprias associações extrativistas beneficiadas.
Ituxi: energia para açaí, microscópio e bombeamento d’água
Na Resex Ituxi, na comunidade Volta do Bucho (distante a cerca de 200 km da sede do município, ou no mínimo seis horas de barco rápido) foram instalados três sistemas: um para bombeamento de água de poço, um para refrigeração e outro para uso de equipamentos produtivos. A comunidade aposta no açaí como um importante potencial de renda para a região e, por isso, a primeira máquina a funcionar com energia solar foi uma despolpadeira.
“Nós preparamos a sede da nossa associação com uma área específica onde vamos trabalhar com o açaí. Lá ficará a despolpadeira e o freezer”, comenta Irismar Monteiro Duarte, um dos líderes da Associação dos Moradores Agroextrativistas da Resex Ituxi, explicando que hoje o fruto só é usado para consumo próprio: “o açaí é muito perecível e não resiste até chegar à sede do município”.
Quando a despolpadeira não estiver em uso, a energia solar será usada pelo agente de saúde local, que faz o controle da malária através de microscópio, além de outros fins comunitários, como rádio e carregamento de celulares, por exemplo.
Já com o bombeamento de água, os moradores poderão, além de limpar açaí e mandioca para produção, dizer fim ao antigo hábito de ter que lavar roupa e louça no rio. Agora, com o sistema funcionando, os moradores já planejam concluir uma rede de distribuição da água para todas as casas e assim terem mais qualidade de vida.
Em Jurucuá, água agora chega limpa e direto para a caixa
Na Resex Médio Purus, onde há 97 comunidades e mais de 5500 moradores, foi instalado o segundo sistema solar do projeto. Foi para bombeamento de água de rio, na Comunidade Jurucuá (distante cerca de duas horas de barco rápido da sede de Lábrea). Com apoio da prefeitura, os moradores construíram uma casa de farinha flutuante, e foi nessa estrutura que foi instalado o sistema de bombeamento.
“Havia moradores que não acreditavam que com energia do sol seria possível bombear a água do rio para até 50 metros de distância, para uma caixa d’água que está a seis metros de altura das casas. Quando todos ouvimos o som da água na caixa, foi uma emoção muito grande”, relata o gestor do ICMBio, responsável pela Resex Médio Purus, José Maria Ferreira de Oliveira.
Neste sistema, foi instalada uma tecnologia social desenvolvida por um morador de Lábrea. Francisco Brito Junior criou um filtro submerso, onde é acoplada uma bomba d’água. O filtro pode ser enterrado no leito do rio nas áreas de praia ou fixado em estruturas flutuantes nas regiões de barranco ao longo do rio. É esta segunda opção que está sendo testada agora na comunidade Jurucuá. Segundo o inventor, o filtro purifica a água do rio em 90% antes de chegar na caixa d’agua.
O líder da comunidade, Sr. Benedito Clemente de Souza acredita que, com esta água limpa, a comunidade conseguirá um valor melhor pela mandioca e farinha que produz, assim como uma melhora na saúde das famílias.
Pesquisa recente do ICMbio mostra que a maior incidência de viagens até a sede do município para atendimento de saúde se dá em função de diarreia – o que está diretamente relacionada com a qualidade da água. Ou seja, com água limpa em casa, serão reduzidos os problemas de saúde e os gastos com combustível, usados tanto para os barcos que precisam prestar socorro aos doentes quanto para a alimentação de pequenos geradores fósseis (chamados de motores de luz pelos ribeirinhos amazônicos).
Durabilidade dos equipamentos fotovoltaicos
Parte dos equipamentos utilizados nestes sistemas foi de módulos, conversores e inversores recebidos de doação do Ministério de Minas e Energia (MME), do extinto Prodeem. Estes equipamentos estavam guardados há quase 20 anos na usina de Furnas no Rio de Janeiro. O WWF-Brasil concorreu ao edital de doação do ministério e ganhou um dos lotes, direcionando todo o equipamento para as duas Reservas Extrativistas de Lábrea.
No total, estes materiais, que até então estavam parados, poderão produzir até 35 kW de energia solar fotovoltaica. “O equipamento funcionou bem, com algumas adaptações, o que mostra a durabilidade e importância de sistemas solares. O que antes estava num depósito agora vai impulsionar a produção sustentável extrativista nesta região da Amazônia”, comenta a analista de conservação do WWF-Brasil, Alessandra Mathyas.
Além dos equipamentos doados pelo MME, o projeto conta com a coordenação técnica da empresa Usinazul, além das parcerias com as empresas J. A. Solar, que doou painéis, e Schneider Eletric, com o Instituto Mamirauá, Universidade Estadual do Amazonas (campus Lábrea) e Prefeitura de Lábrea.