Revitalização do Rio Peruaçu: uma atuação conjunta
maio, 19 2014
Expedição ambiental avalia o estado atual do afluente do São Francisco no norte de MG
Por Bruno Moraes"Antigamente, a comunidade usufruía dos peixes, que hoje já não tem mais, usufruía dos buritis, que diminuíram bastante, tinha uma água boa e em volume, que também não está mais assim. Se não tiver um trabalho de recuperação, aí que não vai usufruir de maneira nenhuma. E o norte de Minas Gerais perde porque água é tudo."
O depoimento de Manuel Pereira da Mota, 46 anos, morador da região do Vale do Peruaçu, demonstra a preocupação de toda a comunidade. Afluente do São Francisco, um dos mais importantes cursos d’água do Brasil e da América do Sul, o rio Peruaçu sofre um processo de degradação acelerado desde 1998. Era ponto de lazer, fonte de água potável e local de cultivo de arroz na época da seca. A realidade hoje é completamente diferente. O trabalho é evitar que ele fique totalmente seco e deixe de existir.
Nos dias 8 e 9 de maio, uma expedição promovida pelos parceiros do Projeto de Revitalização do Rio Peruaçu – a primeira da foz à nascente – percorreu toda a sua extensão para fazer um diagnóstico dos problemas enfrentados e propor soluções viáveis. Um dos pontos que demonstra bem a situação é o local onde ficava a nascente. Ela secou e migrou para uma área 15 km mais distante. "Ver a nascente seca e pisar em cima dela me entristeceu muito. Só um trabalho conjunto pode ajudar a recuperar o Rio Peruaçu", relata Dona Andina Ferreira, nascida às margens do rio e presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Vila Bonita Fabião II.
Participaram da expedição associações comunitárias locais e instituições regionais e nacionais que desenvolvem ações ambientais no rio. O WWF-Brasil faz parte desse grupo e promove projetos de conservação através do Programa Cerrado Pantanal (dentro das Unidades de Conservação da região: um Parque Estadual, um Parque Nacional e uma Área de Proteção Ambiental) e do Programa Água Brasil (na implementação de unidades demonstrativas agroecológicas e tecnologias sociais junto às comunidades locais).
"O Rio Peruaçu é fundamental para a conservação da rica biodiversidade da região inserida no Mosaico de Áreas Protegidas Sertão Veredas-Peruaçu. Esse Mosaico é uma área prioritária para o WWF-Brasil por promover um modelo de desenvolvimento equilibrado e sustentável. As águas do rio abastecem diversas espécies de flora e fauna presentes ali, algumas inclusive ameaçadas de extinção. Outro aspecto relevante na conservação desse rio diz respeito a sua relação com as comunidades que vivem no seu entorno, nesse sentido o trabalho e envolvimento dos atores participantes dessa expedição é fundamental para o alcance desse objetivo de conservação", explica Julio Cesar Sampaio, coordenador do Programa Cerrado Pantanal.
Esperança para o Peruaçu
Assoreamento, agronegócio, mineração, plantio de eucalipto no entorno, fogo, pecuária extensiva (sem adoção de boas práticas) e construção de estradas às margens foram as principais ameaças observadas pelo grupo de 70 pessoas. No entanto, locais preservados e que demonstram a regeneração do meio ambiente animaram o grupo.
Além de educar ambientalmente moradores, técnicos e parceiros, a expedição oficializou propostas de revitalização para o rio Peruaçu. Um grupo de trabalho foi formado para apresentar um relatório com as informações levantadas na reunião do Comitê de Bacia Hidrográfica dos Afluentes Mineiros do Médio São Francisco, no dia 14/5. A conservação de diversos trechos do rio, proteção de outros e a construção de mais micro barragens nas nascentes (que contém a água ao invés de deixá-la escoar) são algumas das soluções sugeridas durante a expedição.
"Foi muito importante devido à participação da rede de parceiros que já desenvolve ações no baixo e médio Peruaçu. Mas precisamos de um trabalho maior, da nascente à foz. Todas as partes influenciam no processo de degradação e, consequentemente, de revitalização do rio. Se conseguirmos desenvolver um grande projeto a partir do que vimos aqui, já será um grande ganho", afirma Mauro Cezar Barcelos (Emater-MG), um dos responsáveis pela organização.
O Projeto de Revitalização do Rio Peruaçu visa a melhora na qualidade de vida e provocar uma mudança da realidade socioeconômica e ambiental de comunidades tradicionais, camponeses posseiros, indígenas, ribeirinhos e demais moradores da margem do rio.
"Temos que conscientizar o pessoal. A comunidade está sofrendo e muitos ainda não perceberam a gravidade que faz a falta da água no rio. Temos que focar nisso", cobra Seu Manuel, confiante de que a natureza tem poder de se regenerar e ajudar a reverter esse cenário. Mas, para isso, o ser humano também tem que fazer a sua parte.