Dia do Pantanal: WWF-Brasil alerta para a importância da conservação das cabeceiras do Pantanal
novembro, 12 2014
Reportagem realizada pelo jornal britânico The Telegraph aponta ameaças e desafios para a conservação ambiental do bioma
“Em ambos os lados da estrada de pista simples, a paisagem se estende em um mosaico de pastagens alagadas e retalhos de densa vegetação. Está anoitecendo e o céu parece uma revolução de dourados e vermelhos. Um casal de araras aponta sobre nossas cabeças, num flash de vermelho e azul, em contraste com as copas verdes escuras das árvores”.O trecho acima é parte da reportagem “Pantanal: Ativistas lutam para preservar intactas as planícies alagadas do Brasil”, produzida pelo jornal britânico The Telegraph e que o WWF-Brasil disponibiliza em português no link ao lado para marcar o Dia Nacional do Pantanal, comemorado hoje, 12 de novembro. Resultado de expedição organizada em parceria com o WWF-Reino Unido e o Programa HSBC pela Água, a matéria foi publicada no dia 11 de setembro e destacaa viagem pela qual o jornalista inglês Mick Brown e a fotógrafa Anastasia Taylor-Lind percorreram 1.400 quilômetros no estado Mato Grosso, no período de 26 a 31 de maio.
“Expedições como essa são parte do esforço do WWF-Brasil em alertar sobre as ameaças e desafios que rondam o Pantanal. Manter a sociedade informada é uma forma de angariar apoio para que os setores públicos e privados tomem medidas efetivas para a conservação do bioma”, afirma o coordenador do Programa Água para a Vida do WWF-Brasil, Glauco Kimura de Freitas, que também participou da viagem e é um dos entrevistados da reportagem.
Maior área úmida continental do planeta, o Pantanal ocupa parte dos estados brasileiros do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e estende-se pela Bolívia e Paraguai. A região abriga uma impressionante diversidade de flora e fauna, com pelos menos 4.700 espécies catalogadas, sendo 3.500 plantas, 565 aves, 325 peixes, 159 mamíferos, 98 répteis e 53 anfíbios.
Além do encantamento pela região, a reportagem também retrata as ameaças que colocam em risco a conservação ambiental do Pantanal e a manutenção do estilo de vida pantaneiro. “Agricultura intensiva, desmatamento, poluição industrial e a demanda de uma população em crescimento por água e energia estão colocando em perigo as águas que formam o Pantanal: nascentes, afluentes e rios que lhe dão vida”, escreveu Brown.
Pacto em Defesa das Cabeceiras do Pantanal - Com depoimentos de diversos atores locais, de prefeitos a vaqueiros, a matéria constata o impacto do desenvolvimento não-sustentável na área. “Eu tenho 57 anos e me considero velho. Mas estou preocupado com os jovens que não vão ter como sobreviver nessa região e vão ter de ir embora. Rio acima, as pessoas não se importam com o rio, e aqui a gente paga o preço”, afirma João, pescador citado na reportagem que vive nos arredores de Poconé e tira seu sustento do rio Cuiabá.
O “rio acima” apresenta o maior risco ecológico na região. É no planalto mato-grossense que estão as cabeceiras do Pantanal. “Trata-se de um conjunto de nascentes e afluentes que são responsáveis pela função hidrológica de todo o sistema das áreas úmidas. A região funciona como uma caixa-d’água que abastece diretamente a parte baixa”, explica Glauco de Freitas.
Reverter a degradação da região de planalto é o foco do trabalho do Pacto em Defesa das Cabeceiras do Pantanal. Um projeto do WWF-Brasil, apoiado pelo Programa HSBC pela Água, que busca melhorar o gerenciamento de recursos hídricos e proteger quatro grandes afluentes da região - os rios Alto-Paraguai, Sepotuba, Jauru e Cabaçal, que são responsáveis por até 30% do fluxo de água que desce ao Pantanal..
O objetivo do projeto, também destacado na reportagem do The Telegraph, é que até 2017 pelo menos 25 municípios da bacia, produtores, empresas e entidades locais assinem o Pacto e se comprometam com práticas sustentáveis em diferentes setores. Em nove meses de trabalho, 72 instituições, incluindo grupos de pescadores, produtores locais, frigoríficos, entre outros, já assinaram cartas de intenção de apoio ao Pacto.
“Água é tudo para o Pantanal. Nós precisamos do engajamento de todos os setores da sociedade fazendo-os compreender que cuidar do seu recurso hídrico não beneficia apenas suas atividades cotidianas, mas também provê uma base para uma indústria saudável no longo prazo”, citou Freitas na reportagem.
Durante a expedição, o grupo visitou o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, os campos agrícolas da estrada entre a Chapada e Campo Verde, Poconé, Cáceres, Reserva do Cabaçal, São José dos Quatro Marcos, Barra do Bugres, Tangará da Serra e Cuiabá, todas as localidades no estado de Mato Grosso, e boa parte delas na região abrangida pelo Pacto em Defesa das Cabeceiras do Pantanal.
WWF-Brasil no Pantanal
O WWF-Brasil apoia projetos de conservação na região há 16 anos. O trabalho consiste na realização de estudos de impacto sobre o uso do solo e mudanças climáticas, além do cálculo da Pegada Ecológica e monitoramento da cobertura vegetal. a organização também ajuda a conservar as nascentes, a recuperar áreas degradadas e a estimular a produção sustentável de carne com a promoção de boas práticas para o fortalecimento da pecuária orgânica certificada, entre diversos outros projetos.
O trabalho do WWF-Brasil, na região, é realizado por meio de dois Programas: Cerrado Pantanal e Água para Vida. No bioma, a estratégia de conservação é, ainda, compartilhada com o WWF-Bolívia e o WWF-Paraguai. O trabalho desenvolvido tem promovido ações mais efetivas na conservação do bioma que buscam envolver a conservação e a proteção dos ecossistemas aquáticos, o desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis, o planejamento sistemático do território e o desenvolvimento de hábitos responsáveis de consumo.
Dia do Pantanal – Criado em 2008, o Dia Nacional do Pantanal tem como objetivo incentivar a conservação da biodiversidade pantaneira e valorizar a sua importância para o meio ambiente, ao mesmo tempo que alerta para o grau de vulnerabilidade do bioma e envolve toda a sociedade em sua defesa.
Iniciativa do Ministério do Meio Ambiente (MMA), com o apoio do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e do movimento ambientalista, o dia 12 de novembro foi escolhido para homenagear o ambientalista e jornalista Francisco Ancelmo de Barros, conhecido como Francelmo, que durante 25 anos dedicou-se à luta pela preservação do Pantanal. No dia 12 de novembro de 2007, durante uma manifestação no centro de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, Francelmo ateou fogo no próprio corpo para protestar contra a instalação de usinas de álcool no Pantanal.